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Clube de leitura

Porque ler é um prazer que deve ser partilhado

Clube de leitura

Porque ler é um prazer que deve ser partilhado

"As três vidas" de João Tordo

28.09.10, Charneca em flor

 

A primeira vez que ouvi falar de João Tordo foi no programa "Ping Pong Top", do canal Q, o canal das oduções Fictícias. João Tordo deu uma entrevista bem divertida a Patrícia Muller e a Hugo Gonçalves falando do novo livro "O Bom Inverno". Como fiquei curiosa fui descobrindo várias coisas, João Tordo é filho do cantor Fernando Tordo, nasceu em 1975 e ganhou o Prémio José Saramago 2009 com este romance "As três vidas", o seu terceiro romance. João Tordo representa uma nova geração de escritores e é, nas suas próprias palavras, "um gajo que conta histórias" (na revista Visão). João Tordo é um excelente e imaginativo contador de histórias. "As três vidas" é um romance repleto de mistérios que se vão desenrolando ao longo de muitos anos, atravessando períodos marcantes da História do século XX e do ínicio do século XXI. A imaginação do autor surpreende-nos a cada página e, quando não conseguimos perceber como ele vai desenrolar o novelo da história, eis que surge uma solução inacreditável. O narrador é um jovem secretário, sem nome, que começa a trabalhar com o misterioso António Augusto Milhouse  Pascal. Durante muito tempo não consegue compreender qual é o trabalho que o patrão executa. Sempre presente está Artur, o jardineiro e motorista, quase tão misterioso como Milhouse Pascal. Os clientes, que são ricos, perigosos e loucos vêm e vão. O conhecimento que o jovem trava com os netos de Milhouse Pascal influenciará o seu discernimento e as suas decisões. Uma história que diicilmente  se consegue deixar de ler...

 
"Ainda hoje, sempre que o mundo se apresenta como um espectáculo enfadonho e miserável, sou incapaz de resistir à tentação de relembrar o tempo em que, por força da necessidade, fui obrigado a aprender a difícil arte do funambulismo. Esses anos, que considero terem sido excepcionais - e, ocasionalmente, marcados por acontecimentos funestos -, deixaram-me num estado de melancolia crónica no qual, embora dele tenha procurado escapar, acabo inevitalmente por voltar a cair. (...) Bastará dizer que não recordo um tempo em que a vida tenha sido particularmente eliz, mas que sou incapaz de esquecer cada hora que passei na companhia de António Augusto Milhouse Pascal"
"Se eu fosse um homem diferente, com mais imaginação, talvez pudesse acreditar - e fazer-vos acreditar -que os mistérios que perpassaram esta narrativa irão um dia encontrar a sua resposta: estou convencido, contudo, de que muitas coisas permanecem eternamente veladas e, com o passar do tempo, aprendi a viver com esta resignação"
Publicado originalmente aqui

Noah Gordon: A escolha da Doutora Cole

26.09.10, Jorge Soares

A escolha da Dra Cole

 

 

Depois de ler O FísicoXamã, foi com alguma ansiedade que tentei encontrar este terceiro livro da trilogia em que é narrada a história de uma família  de médicos, os Cole, desde a idade média até à actualidade.

 

Se os dois primeiros eram excelentes relatos históricos, este ultimo é um relato por vezes pungente da sociedade rural americana e da forma como na actualidade é praticada a medicina nos Estados Unidos.

 

Roberta Cole quebrou uma tradição mantida pela família desde a Idade Média. O primeiro filho era homem e depois tornava-se médico, Roberta além de ser mulher, decidiu que o seu caminho não seria a medicina e sim o Direito.

 

Ela herdara um dom e tal como alguns dos seus antepassados Coles, era capaz de pressentir a morte de uma pessoa ao pegar-lhe nas mãos, um dia, pressentiu a morte do seu marido. Nesse dia ela soube que o seu destino era o mesmo de muitos dos seus antepassados, a Medicina.

 

Era já uma das médicas mais respeitadas do Lemuei Grace Hospital, de Boston, quando, pela primeira vez se viu confrontada com os desafios da competição profissional do mundo moderno. A sua recusa em aceitar algumas das  regras impostas pelo cargo que ocupava fê-la perder a chefia de um importante departamento do hospital. Desiludida decide mudar de vida e vai trabalhar para uma pequena cidade rural no interior de Massachusetts e é aí que começa a sua verdadeira saga.

 

Os livros da trilogia de Noah GordonNa versão que eu tenho, que é  de 1998, o livro ainda se chamava Opções, agora chama-se As escolhas da Dra Cole. qualquer dos nomes se adequa perfeitamente, porque é das opções e de escolhas que é feita a nossa vida. As escolhas da Dra Cole levam-nos a percorrer os diversos caminhos da Vida, O Amor, o Aborto e a sua prática, o sistema de saúde americano, a vida nas pequenas cidades americanas, tudo no livro é uma fonte de descobertas....

 

Fiquei fan deste autor, que sem dúvida nenhuma escreve muito bem e com enorme rigor histórico e cientifico.

 

Se puderem, leiam, os 3 livros.

 

Post do O que é o Jantar?

 

Jorge Soares

Dose dupla de Isabel Allende

15.09.10, Miss G

Já tinha ouvido falar de Isabel Allende, mas nunca me interessei pelos títulos dos seus livros. Talvez fosse a ideia de que era uma escritora para as massas, o que me mantinha afastada das histórias que conta. Queria algo diferente. Por isso, posso dizer que foi por mero acaso que dois livros dela me escolheram.   

 

A Casa dos Espíritos, Sinopse: O relato da vida de Esteban Trueba, da mulher, dos filhos legítimos e naturais, e dos netos vai levar-nos do começo do século até à actualidade; é toda uma dinastia de personagens à volta das quais a narrativa vai gravitando sem perder de vista os outros - mesmo depois de mortos. O temperamento colérico do fundador, a hipersensibilidade fantasista da sua mulher e a evolução social do país - que reflecte e pode muito bem simbolizar qualquer país latino-americano - tornam difíceis as relações familiares, marcadas pelo drama e a extravagância e conduzem a um final surpreendente e cruel, que deixa no entanto aberto o caminho de uma trabalhosa reconciliação. 

No panorama da actual literatura hispano-americana, nenhum nome de mulher tinha conseguido até agora ocupar um lugar cimeiro. Faltava pois uma romancista. A impecável desenvoltura estilística, a lucidez histórica e social e a coerência estética, patentes em A Casa dos Espíritos fazem do primeiro romance de Isabel, um livro inesquecível. 

  

 

Paula Sinopse:Esta obra de Isabel Allende possui e prossegue duas qualidades essenciais à sua narrativa e ao seu estilo literário: a densidade e a intensidade.
Sendo uma representação do sofrimento e das memórias, Paula é um documento multi-biográfico, como de resto são em grande parte os seus outros romances, e neste se configura como uma viagem dupla em presença do estado comático da filha e da acumulação das experiências de outras dores, entremeadas de alegrias, da mãe.
Paula é tanto um diálogo à cabeceira de uma doente clinicamente privada de consciência, como um solilóquio de grandeza e fragilidade, a tentativa de unir a ideia do amor como única ponte de salvação humana, a realidade do sofrimento tantas vezes absurdo e indecoroso.  

 

 

 

Por estas breves descrições é possível notar já um denominador comum: a família Trueba/Allende. O cariz familiar, diria até catártico, destas duas obras não deixa ninguém indiferente à história, à psicologia, ao paranormal e aos sentimentos.

Fui positivamente surpreendida pela capacidade da escrita de Isabel em me prender a uma história de centenas de páginas (A Casa dos Espíritos) repleta de notas históricas, sem que eu pensasse uma única vez que estava a ler uma enciclopédia da história da América Latina. Curioso também, é a multiplicidade de temas envolvidos, a riqueza e a peculiaridade desta família, onde se reúnem caracteres, mundos, à primeira vista antagonistas. Confesso que se tivesse lido a sinopse em primeiro lugar e não fosse o título chamativo, o livro teria ficado na prateleira.  

Quando li a contracapa de Paula, fiquei presa a história, antevendo já o seu fim. Mas até que a última palavra esteja lida, tudo pode acontecer, ainda mais pela mão de Isabel. Na minha perspectiva, aqui personagem principal é (de novo) a escritora que nos leva ao seu passado, ao seu presente e ao seu interior. Conhece-se aqui a mãe, a matriarca, a mulher. 

 

Ler Isabel Allende, é portanto uma aventura deliciosa e alucinante, que eu recomendo e planeio repetir.

2666 - Roberto Bolaño

13.09.10, Jorge Soares

2666, Bolaño

 

Ler é quase uma tarefa obrigatória durante as férias, costumo ir carregado com um ou dois livros e muitas vezes regresso com mais um ou dois que entretanto fui comprando. Este ano fui mesmo carregado e só com um.... mas não é um livro qualquer, é sem duvida o livro com mais páginas que já li... para cima de 1200.

 

Eu que adoro a literatura latino-americana, nunca tinha ouvido falar de Bolaño,  escritor chileno que morreu em 2003, este terá sido o seu ultimo  manuscrito e que segundo o prólogo, não estaria concluído à data da sua morte. A história do livro é algo estranha, o escritor descobriu que tinha cancro e que lhe restava pouco tempo de vida quando a escrita estava a meio. Na altura terá decidido que como forma de garantir uma maior rentabilidade para os seus herdeiros, em lugar de um, seriam 5 os livros a retirar do manuscrito e terá manifestado esse desejos ao seu editor. Desejo que terminaria por não ser levado em consideração.. quanto a mim, o resultado de tudo isto foi nefasto...

 

Converter um livro em cinco, levou a que fosse necessário muito acrescento, dezenas, talvez centenas, de páginas que não estariam ali se não fossem para simplesmente encher. Um exemplo: mais ou menos a meio do livro e na sequência de páginas e páginas em que se vão descrevendo os cadáveres de mulheres que são encontradas mortas, a forma como foram encontradas, a causa da morte, a chegada dos policias, etc, gastam-se meia dúzia de páginas a descrever  como os 3 médicos forenses da cidade se encontram todos os dias para tomar o pequeno almoço. A cena aparece do nada, as personagens só aparecem ali, é descrita a forma como tomam o pequeno almoço juntos e não voltam a aparecer em todo o livro, nem há absolutamente nada que se possa retirar disso e que interesse para o desenrolar da historia.

 

De facto o livro está dividido em 5 partes distintas em que a historia se desenvolve e é contada desde o ponto de vista de personagens diferentes, à primeira vista é difícil encontrar o fio condutor, no fim descobrimos que esse fio existe, ainda que a historia não nos leve a lado nenhum e terminemos o livro a saber o mesmo que sabíamos no inicio, muito pouco.. ou mesmo nada.

 

A mim custou-me a entrar na leitura, se calhar não teria escolhido aquela primeira parte para inicio do livro, imagino que a maioria das pessoas terá imensas dificuldades em passar das primeiras páginas e quando temos dificuldade a entrar num livro que tem mais de 1200 páginas....

 

Em suma, nem sempre um livro bem escrito é um bom livro, há partes em que até parece que nos agarramos à leitura, mas há outras partes, muitas partes, em que simplesmente não entendemos para que estão ali e o seu interesse para a historia. Depois há aquela parte em que passamos centenas de páginas a ler a descrição de cadáveres de uma forma mais ou menos crua, qualquer um de nós poderia pegar naquilo tudo e estabelecer um padrão.... ou vários padrões... imagino que seria essa ideia original do escritor.... terá falecido antes de finalizar esta parte do manuscrito?

 

Este foi um livro que causou algum burburinho na blogosfera, depois de o ler, a questão que me coloco é quantas das pessoas que falam dele o terão realmente lido?

 

Em suma, para além de não ter encontrado a lógica do nome, e eu juro que li até à ultima página, não gostei do livro e não consegui ficar com uma ideia sobre o autor.

 

Post publicado no O que é o Jantar?

 

Jorge Soares

QUANDO NIETZSCHE CHOROU!

09.09.10, Bete do Intercambiando

 

 

 

Numa linguagem simples e descomplicada Irvin D.Yalom, recria uma situação hipotética onde Nietzche procura o médico vienense Josef Brauer para uma consulta para o tratamento de sua enxaqueca.  Brauer, que já havia sido alertado por uma amiga comum a ambos, para as possíveis causas desta e outras doenças,envereda-o para tratar-lhe o espírito.

Mas, à medida que ambos vão "evoluindo"no tratamento, vão trocando os papeis até não se saber mais quem é o médico e quem é o paciente. Questionamentos interessantes sobre as dúvidas do homem por volta dos 40 anos, que tendo já conquistado tudo que almejava não sabe mais para onde quer ir, para onde a vida vai lhe levar.......IMPERDÍVEL!

"Danúbio" de Cláudio Magris

09.09.10, Charneca em flor
Este livro fez parte de uma das colecções da Biblioteca Sábado e andava aqui por casa há muito tempo. Quando fizemos as malas para "As quatro capitais da Europa Central", também lá ia mas, na verdade, só lhe peguei quando voltei. Ler o "Danúbio" foi uma maneira de ir prolongando, por mais uns dias, as deambulações pelo centro da Europa. O rio Danúbio é o segundo rio mais longo da Europa tendo cerca de 2800 km de extensão, cruza vários países e passa por 4 capitais, Viena (Aústria), Bratislava (Eslováquia), Budapeste (Hungria) e Belgrado (Sérvia) e por muitas outras cidades importantes.
O autor, Cláudio Magris, nasceu em Trieste (Itália) em 1939 e licenciou-se como germanista na Universidade de Turim. Para além de ser docente na Universidade de Trieste, é ensaiasta e colunistas em vários jornais. "Danúbio" de 1986 foi considerada a sua obra-mestra sendo considerado um dos mais importantes escritores italianos contemporâneos. A sinopse desta obra diz assim:

 

"Nos anos 80, Cláudio Magris realizou uma viagem seguindo o rio Danúbio. Ao longo de um percurso que atravessa a Alemanha, a Áustria, a Hungria, as antigas Checoslováquia e Jugoslávia, a Roménia e a Bulgária, o autor alterna o relato de episódios significativos com descrições da paisagem física e cultural, até formar uma malha de ideias que aproxima esses países num espaço comum. Neste périplo misturam-se o ensaio, o romance, o diário e a literatura de viagens, e aparecem paisagens, paixões, encontros, reflexões... Uma viagem "sentimental" em que Magris explora o conceito da Mitteleuropa fundamental para a compreensão da cultura europeia"

 

Este livro foi uma experiência de leitura muito diferente daquilo que eu estou habituada. Em vez de ter uma história como linha condutora, a linha condutora é o próprio rio e a relação das cidades, dos intelectuais, dos que estão de passagem ou dos locais, com o rio. A viagem que o autor empreende começa na Floresta Negra e segue até ao delta onde o rio se junta com o Mar Negro. Mais do que uma viagem física ou sentimental, a verdadeira viagem é intelectual já que vamos descobrindo todos os autores que já escreveram sobre o Danúbio ou que foram influenciados pela proximidade com o rio nas suas obras. Não foi um livro fácil de ler mas valeu a pena acompanhar Cláudio Magris nesta viagem, quase como se fizesse um cruzeiro no Danúbio...

 

 

Post publicado originalmente no É possível ser feliz...

HISTÓRIAS SEM AQUELE ERA UMA VEZ

04.09.10, Existe um Olhar

Hoje ao invés de deixar aqui a sinopse deste livro, optei por deixar um vídeo com fotos de um grupo jornalistas que se uniram num projecto que tem como objectivo contribuir para uma ONG na Guiné e que tem como intenção combater as garras da crueldade da exploração de crianças nesse país.

Cada um dos autores pegou numa história infantil e a seu modo reescreveu-a retratando o mundo contemporâneo.

Fascinou-me a forma como o fizeram e de vez em quando é bom abrir um dos contos e nuns parcos cinco minutos podemos deliciarmo-nos e voar até uma realidade bem actual, e muito diferente da fantasia com que lemos por exemplo, As aventuras de Peter Pan, A Raposa e a Cegonha ou o Robin dos Bosques.

Deixo alguns títulos, será que adivinham as histórias a que se referem?

O rei morreu nu.

Robin, o autarca dos bosques

O Patinho feio, afinal era bonito

Não faças o que a raposa fez á cegonha.

" Escolheste bem! Esta ave ficará nos meus jardins onde voará eternamente aquecida pelo calor do sol e o Príncipe merecerá, para sempre, o nome por que ficou conhecido, porque ambos descobriram que o amor não é egoísta"
(Bárbara Wong
O Príncipe e a Andorinha, baseado no conto de Oscar Wilde, O Príncipe Feliz)