A Sibila, Agustina Bessa-Luís
"- Se alguém a ofendesse muito, perdoava, retribuía ou esquecia?
- Perdoava a uma criança, retribuía a uma mulher; tratando-se de homem, esquecia".
Este é um livro especial.
Demorei um certo tempo a lê-lo porque os exames meteram-se pelo meio.
Nesta obra encontrei das personagens mais completas de todos os livros que li até hoje. Quina, a personagem principal, é das melhores de sempre. Este livro dá muito ênfase à figura feminina, dá-lhe uma força muito especial.
A escritora mistura na história principal uma série de outras hostórias paralelas com um requinte de escrita fantástico, lembro-me agora da história da Condessa de Monteros.
Encontramos uma série de provérbios no decorrer da acção, coisa que eu adorei e também muitas expressões, creio que de um português antigo.
" No plano da intriga, trata-se da reconstrução da trajetória da família Teixeira e de sua casa secular que caminha da decadência/ruína ao ressurgimento grandioso/triunfal.
As situações vividas e descritas revelam gradativamente o sistema de valores que rege um universo fechado. Ao mesmo tempo deixam entrever a visão de mundo dos homens e mulheres que povoam esse universo, notadamente a partir de uma força que emanado lado feminino: sob a gestão de mulheres fortes e destemidas, capazes de lutar para o reerguimento de seu patrimônio.
O poder de mando da mulher vai se revelando e se efetivando após um incêndio da casa. Quina (Joaquina Augusta) é o destaque do clã feminino, Germa (Germana), sua herdeira que serve de ponte para o futuro. Ao morrer, Quina lega a Germa suacontinuidade (herança) porque em ambas existe a coincidência do estado de equilíbrio. São uma espécie de sibila, detentoras de secretas potências, "alguma coisa que ultrapassa o humano"
"Ceder ao sentimento demasiado prontamente é indício de carácter dúctil para todos os fins, sendo a questão de meio e de circunstância".
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