Já tinha ouvido falar de Isabel Allende, mas nunca me interessei pelos títulos dos seus livros. Talvez fosse a ideia de que era uma escritora para as massas, o que me mantinha afastada das histórias que conta. Queria algo diferente. Por isso, posso dizer que foi por mero acaso que dois livros dela me escolheram.
A Casa dos Espíritos, Sinopse: O relato da vida de Esteban Trueba, da mulher, dos filhos legítimos e naturais, e dos netos vai levar-nos do começo do século até à actualidade; é toda uma dinastia de personagens à volta das quais a narrativa vai gravitando sem perder de vista os outros - mesmo depois de mortos. O temperamento colérico do fundador, a hipersensibilidade fantasista da sua mulher e a evolução social do país - que reflecte e pode muito bem simbolizar qualquer país latino-americano - tornam difíceis as relações familiares, marcadas pelo drama e a extravagância e conduzem a um final surpreendente e cruel, que deixa no entanto aberto o caminho de uma trabalhosa reconciliação.
No panorama da actual literatura hispano-americana, nenhum nome de mulher tinha conseguido até agora ocupar um lugar cimeiro. Faltava pois uma romancista. A impecável desenvoltura estilística, a lucidez histórica e social e a coerência estética, patentes em A Casa dos Espíritos fazem do primeiro romance de Isabel, um livro inesquecível.
Paula Sinopse:Esta obra de Isabel Allende possui e prossegue duas qualidades essenciais à sua narrativa e ao seu estilo literário: a densidade e a intensidade.
Sendo uma representação do sofrimento e das memórias, Paula é um documento multi-biográfico, como de resto são em grande parte os seus outros romances, e neste se configura como uma viagem dupla em presença do estado comático da filha e da acumulação das experiências de outras dores, entremeadas de alegrias, da mãe.
Paula é tanto um diálogo à cabeceira de uma doente clinicamente privada de consciência, como um solilóquio de grandeza e fragilidade, a tentativa de unir a ideia do amor como única ponte de salvação humana, a realidade do sofrimento tantas vezes absurdo e indecoroso.
Por estas breves descrições é possível notar já um denominador comum: a família Trueba/Allende. O cariz familiar, diria até catártico, destas duas obras não deixa ninguém indiferente à história, à psicologia, ao paranormal e aos sentimentos.
Fui positivamente surpreendida pela capacidade da escrita de Isabel em me prender a uma história de centenas de páginas (A Casa dos Espíritos) repleta de notas históricas, sem que eu pensasse uma única vez que estava a ler uma enciclopédia da história da América Latina. Curioso também, é a multiplicidade de temas envolvidos, a riqueza e a peculiaridade desta família, onde se reúnem caracteres, mundos, à primeira vista antagonistas. Confesso que se tivesse lido a sinopse em primeiro lugar e não fosse o título chamativo, o livro teria ficado na prateleira.
Quando li a contracapa de Paula, fiquei presa a história, antevendo já o seu fim. Mas até que a última palavra esteja lida, tudo pode acontecer, ainda mais pela mão de Isabel. Na minha perspectiva, aqui personagem principal é (de novo) a escritora que nos leva ao seu passado, ao seu presente e ao seu interior. Conhece-se aqui a mãe, a matriarca, a mulher.
Ler Isabel Allende, é portanto uma aventura deliciosa e alucinante, que eu recomendo e planeio repetir.