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Clube de leitura

Porque ler é um prazer que deve ser partilhado

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Porque ler é um prazer que deve ser partilhado

Carrie - Stephen King

31.03.11, ChadGrey

 

 

Carrie, a telecinética.

Onde o fogo, o controlo e a imaginação se juntam numa mistura explosiva.

 

 

O meu primeiro livro que me deixou a pensar durante dias, semanas, perturbando-me sempre que penso nele. Reli este livro cerca de 5 vezes. E basta pensar nele um bocadinho para de imediato ter toda a certeza de que nós, seres humanos, somos os animais mais cruéis e desumanos que existem.

 

Resumidamente, Carrie é uma criança, no inicio da sua adolescencia, que não teve a infância mais fácil. A mãe é devota ao cristianismo no sentido amplo e rigorosa, onde apenas o usar de uma t-shirt de manga curta pode ser dos piores pecados deste mundo.

Este crescimento fez com que esta se torna-se uma pessoa fechada, calada, e, por si, alvo fácil de bullyng por parte das suas colegas.

 

Carrie encontrava na sua habilidade de mover objectos, concentrando-se neles, fazendo-os dançar e mover-se no ar, mas até isto foi desaprovado, sendo considerado um caminho pecaminoso, pelo menos segundo sua mãe, Margaret White.

 

Mas, no famoso baile de finalistas, onde finalmente tudo seria perfeito para Carrie White, foi alvo da pior e mais humillhante partida provocado por uma invejosa colega.

Carrie utiliza a sua habilidade, num ataque de fúria inconsciente e fora de controlo, deixando de ser para descontração e encontro do conforto e calma, tornando-se uma das armas mais mortíferas da história de Chamberlain.

 

Stephen King sabe melhor que ninguém provocar ao leitor um misto de sentimentos e, mais interessante de tudo, sentimentos esses paradoxais uns aos outros; e ele provou-o logo de início com o seu primeiro grande sucesso Carrie, tendo a sua primeira edição sido lançada em 1974.

Após ler diversas vezes este livro, ainda não sei se sinto pena, horror, medo ou empatia pela Carrie White. Para mim, a melhor personagem alguma vez criada.

 

Livro divido em três partes, onde vemos uma linguagem rica, mas fácil e de leitura fluida. Dificil de parar de ler, apesar de ter apenas 212 páginas, tem tudo o que um excelente livro deve ter.

 

Intenso, aterrorizante, emocionante pouco definem este livro.

 

Post do url=http://lerparaviver.blogs.sapo.pt/>Ler Para Viver

"Os pecados de Lorde Easterbrook" de Madeline Hunter

28.03.11, Charneca em flor

 

Este é já o segundo livro que leio de Madeline Hunter. O primeiro foi "Jogos de Sedução".

A acção passa-se no século XIX e tem como pano de fundo as relações comerciais, mais ou menos legais, entre a Inglaterra e o Oriente, abordando até o tráfico de ópio e a destruição que o ópio provoca na vida de quem se lhe entrega. As personagens principais, Christian e Leona, conhecem-se em Macau onde se apaixonam mas são obrigados a separarem-se. Ao fim de 7 anos voltam-se a encontrar, em Londres, onde revivem as emoções vividas no Oriente. No entanto, há muitas coisas que os separam uma vez que Leona vai para Londres para estabelecer relações comerciais mas também para se vingar de quem levou o seu pai à morte.

Madeline Hunter faz um brilhante relato histórico e descreve os encontros entre Christian e Leona com uma grande carga sensual como já acontecera na outra obra dela a que faço referência. Ainda mais, neste "Os pecados...", a sensualidade ainda traz um toque do exotismo do Oriente. Como diz na sinopse:"Uma viagem no tempo até uma era marcada por escândalos, intriga e desejos secretos..."

 

"Silêncio. Calma. A respiração dele a sintonizar-se com um ritmo mais amplo na escuridão. Sem tumulto. Sem ânsias. Um estado de suspensão do ser procurando formar-se e crescer...

O centro não iria aguentar-se. Em vez disso, insurgiu-se uma lembrança, mais vívida do que seria natural. As imagens moveram~se na obscuridade da sua mente. De repente, estava de regresso a Macau, numa noite perfeita...

Cores a tremeluzir num luar de prata. Odor a flores de lótus vindo da lagoa próxima. Lâmpadas que brilhavam tenuamente no interior das casas, para além das paredes de estuque. Ruídos silenciosos que vinham ao seu encontro, misturando-se com os sons da noite.

 (...)

 Um som. Não do tipo silencioso, mas um ruído humano normal. Passos, respiração e um murmúrio débil e feminino.

Subitamente, ela estava ali, no trilho à sua frente. Viu-o e deteve-se. A camisa de noite alva brilhava sob a faixa escura do seu longo xaile de seda. O cabelo escuro encobria-a. A pele parecia cintilar sob a luz da lua.

O desejo tomou imediatamente conta dele, tal como sempre acontecia junto dela. Vê-la era a faìsca necessária para fazer com que a chama do seu desejo ardesse descontroladamente."

 

Originalmente publicado aqui

A menina que nunca chorava - Torey Hayden

27.03.11, Jorge Soares

A menina que nunca chorava

 

 

 

"Querida Mãe,

 

Quero viver contigo, Estou farta de viver com o Pai. Não é que tenha acontecido alguma coisa ruim, porque há muito tempo que nada de ruim acontece ,só que fico farta dos seus modos. De me preocupar com ele, de me preocupar com a bebida e de me preocupar com as drogas e de me preocupar com o que vai acontecer com o nosso dinheiro e de me preocupar se se vai meter de novo em sarilhos e de me preocupar com o que me vai acontecer. Quero viver contigo..... "

 

Quando terminei de ler A Criança que não queria falar fiquei com vontade de saber o que aconteceu com aquela criança. Era uma histórica verídica de uma menina de 6 anos, uma mente brilhante que estava no inicio da vida, a história não poderia terminar ali. Efectivamente a historia não termina ali e a continuação está em a Menina que nunca chorava.

 

Entre as estadas do pai na prisão e nas clínicas de reabilitação, Sheila vai crescendo entregue ao estado, entre centros de acolhimento e famílias temporárias, é apesar de tudo uma criança normal que consegue dar a volta e seguir enfrente, sempre.

 

Aos 13 anos volta a reencontrar Torey, por estranho que pareça, pouco se lembra de aquela turma que viria a mudar a vida dela, lembra-se da professora mas de pouco mais. Ambas vão reencontrando aquele passado e lutando com os fantasmas que perseguem Sheila.

 

Sheila é uma adolescente que se converte num adulto precoce, cresceu sozinha e solitária sem conhecer o amor dos que a rodeiam e a sonhar com encontrar a mãe, tem uma visão do mundo muito própria e por vezes irrealista.

 

O livro tem partes chocantes, porque nos mostra alguns pormenores da cultura americana que para nós são impensáveis, a forma como vêem a adopção e o acolhimento de crianças de um modo que achei completamente leviano, o modo com tratam os problemas das crianças e adolescentes, etc. Por outro lado, mostra-nos a forma como os fantasmas do passado perseguem as crianças que foram abandonadas, Sheila nunca desiste de tentar encontrar a mãe, sonha com ela e com o momento em que se irão encontrar.

 

"Querida mãe,

A vida está a ser boa para mim. Tenho um grande emprego e o meu próprio apartamento e um cão chamado Mike. Desculpa, já não penso muito em ti. Quero faze-lo, mas não tenho tempo. É pena que nunca me tenhas conhecido. Penso que terias gostado de mim.

 

Com amor Sheila"

 

Sinopse:

 

Torey Hayden publicou A Criança Que Não Queria Falar, em 1980, relatando o caso verídico e comovente da sua relação com uma menina de seis anos que aparecera, gravemente perturbada, na sua aula de ensino especial. Ao longo de vários meses, a jovem professora lutou para fazê-la desabrochar sob o calor generoso da sua espantosa intuição e amor e levá-la a descobrir um mundo que podia ser luminoso.


Separadas pelas contingências da vida, só voltam a encontrar-se anos mais tarde quando Sheila já tem 13 anos. Para surpresa de Torey, a adolescente parece ter perdido uma grande parte das memórias dos primeiros tempos que passaram juntas e, à medida que elas ressurgem do passado com os sentimentos que lhes estão associados, a sua competência de terapeuta e a sua devoção vão de novo ser duramente postas à prova.

 

Jorge Soares

 

Post do O que é o jantar

Drácula - Bram Stoker

19.03.11, Jorge Soares

Drácula, Bram Stoker

 

Terminei ontem de ler o "Drácula" do Bram Stoker (1897), tinha visto o filme há vários anos atrás e como tenho sempre curiosidade de ver se as adaptações cinematográficas são bem feitas, já andava atrás do livro há um bom tempo. 

Creio que Bram Stoker foi talvez o principal responsável pelo surgimento do mito do vampiro moderno, que é um dos temas que na actualidade é bastante procurado.  Nos últimos tempos têm saído inúmeros filmes, séries, documentários e livros sobre o vampirismo, mas que, na minha opinião, não são tão interessantes quanto o original...

Para criar a sua obra, Stoker, baseou-se em lendas das zonas rurais romenas, contadas entre camponeses, de geração em geração; mas também em factos históricos o que enriqueceu bastante a sua obra.

A personalidade sanguinária de Vlad Tepes, conhecido por empalar os seus inimigos e beber o seu sangue terá certamente influenciado as lendas de vampiros que ainda hoje se contam na Valáquia.

Quem se interesse por conhecer outros aspectos da sua vida, como o facto de fazer parte de uma liga para defesa dos cristãos contra os turcos, que tornou a Transilvânia num dos poucos locais capazes de resistir a fúria muçulmana, (que até tomou Constantinopla aos Bizantinos)... existem bons documentários sobre o assunto e um bom livro, que embora ficcional, conta de uma forma dinâmica e entusiasmente muitos acontecimentos históricos relacionados com Draculea: chama-se o "Historiador" de Elisabeth Kostova e faz lembrar um pouco no estilo o Código da Vinci.

Aqui podem encontrar o ebook de Bram Stoker.

 

Retirado do Blog Black Bird

"Milagrário Pessoal", José Eduardo Agualusa

13.03.11, Charneca em flor

 

Nunca tinha lido nada de José Eduardo Agualusa embora, de algum tempo para cá, tenha alguma curiosidade pelos escritores africanos como Agualusa ou Mia Couto. Comecei a ler a medo mas foi uma boa aposta. O livro não é muito grande (184 páginas apenas) e lê-se muito bem desde que se leia com disciplina e atenção já que não se trata de um relato linear. Capítulos do enredo alternam com capítulos que contam lendas africanas, relatos de sonhos e histórias longinquas no tempo. Agualusa escreve de uma maneira muito divertida. O fulcro desta história é a pesquisa de novas palavras, neologismos, na língua portuguesa. Nesta busca acompanhamos o percurso de Iara, uma jovem linguista portuguesa, à procura da origem destes neologismos. Iara conta com a ajuda de um velho professor angolano e anarquista. Como diz na sinopse, "Milagrário Pessoal é um romance de amor e, ao mesmo tempo, uma viagem através da história da língua portuguesa, das suas origens à actualidade, percorrendo os diferentes territórios aos quais a mesma se vem afeiçoando."

Tendo em conta o cenário actual da língua portuguesa, com o tão falado Acordo Ortográfico, esta história prova que uma das riquezas da língua portuguesa é a sua diversidade, as várias maneiras de falar português em Portugal, nos vários países africanos ou no Brasil. A meu ver, este (des)Acordo vai retirar inocência à nossa língua obrigando-nos a escrever todos da mesma maneira. Não sei se Agualusa escreveu esta história a pensar nestas discussões sobre o Acordo mas foi isso que eu li nas entrelinhas e essa conclusão é da minha responsabilidade, evidentemente.

 

"Volto a estudar a lista. Vinte e três palavras, todas elas polidas e perfeitas, lúcidas, evidentes, e - sobretudo - imprescindíveis.

São palavras tão familiares, ou melhor, soam tão familiares, que não parecem neologismos, diz-me Iara. As pessoas ouvem-nas, e ficam convencidas de que sempre as utilizaram."

 

"Levou-o este necromante à Vila de Massangano, onde o apresentou a uns pássaros de voo lento e trabalhoso, forte penagem verde e azul, e uma crista púrpura na cabeça, à maneira do solidéu dos cardeais, mostrando-se tais pássaros muito àgeis nos pensamento e hábeis no falar. A partir de várias conferências com os referidos pássaros doutores, que os nativos chamam onduvas, reuniu Moisés da Conceição uma colecção de palavras extravagantes, de muita serventia, segundo me confidenciou o índio Mariano, para a boa iluminação das nações que habitam este país e, mais do que isso, da natureza da vida e dos seus maiores."

 

Post publicado originalmente em Leituras da Stiletto

NÃO HÁ FAMILÍAS PERFEITAS

13.03.11, Existe um Olhar

Acredito que a maior parte das mulheres, mães, esposas, companheiras, apesar de fazerem tudo o que está ao seu alcance para educarem os seus filhos, dando-lhes o melhor, no intuito de fazerem deles cidadãos com valores, princípios e boas regras de conduta, apesar do sua missão olímpica de tentarem cumprir com perfeição as tarefas que lhe são inerentes em todas as áreas de vida, mais que uma vez se terão questionado se os métodos usados serão os melhores e se no futuro os resultados cumprirão as expectativas criadas.

 

Marta Gautier, psicóloga clínica, a par da terapia individual, tem desenvolvido um trabalho na Área das Competências Parentais junto dos pais que querem melhorar a relação com os filhos de modo a adquirirem conhecimentos para mudar comportamentos.

 

O que é ser mulher e mãe em Portugal é a pergunta com que é iniciado o excelente prefácio escrito por Marcelo Rebelo de Sousa onde a certa altura se pode ler: "...é bom ler este livro, para descobrir e redescobrir que a realidade é sempre mais criativa do que a mais fértil imaginação" e mais à frente..."A vida é feita de tudo um pouco. E saber olhar para o seu lado positivo -pequeno que seja - é outro apelo/ sugestão  da leitura desta obra.

Não desanimar. Não descrer. Não deixar de sonhar. Este é o imperativo que não podemos esquecer, mesmo nos piores momentos da nossa vida".

 

Marta Gautier, num tom confessional e genuíno com que certamente muitas mães se identificarão, pretende alertar para certos vícios e equívocos que se instalam nas relações familiares.

Mães e mulheres, a meu ver, depois de lerem este livro, despenalizar-se-ão, ou suspirarão de alívio, por constatarem que as dúvidas, constrangimentos limitações que surgem no dia a dia de uma família, são comuns a muitas outras e certamente perceberão que não há famílias perfeitas.