O Codex 632 - José Rodrigues dos Santos
Quando se trata de leitura, quer se seja um devorador ávido de livros ou um penoso e sofrido leitor esporádico, é impossível evitar uma certa tendência linear. Inconscientemente, acabamos sempre por eleger um determinado estilo de escrita, um tipo de história, tema e escritor como primeira escolha.
Eu, sou dos que adora livros. Vicio-me em qualquer um e não consigo parar de ler a partir do momento que começo. Ao longo do tempo fui adquirindo um gosto especial por livros que abordem uma intensa aventura de investigação e que se consiga relacionar com questões históricas. Nesta classe, há dois autores que destaco claramente: Dan Brown e José Rodrigues dos Santos.
Evitando a habitual tendência de importação, vou-me dedicar ao autor nacional.
O destaque que, pessoalmente, lhe confiro não se deve ao seu estilo de escrita. Deve-se, isso sim, à espantosa investigação por detrás das obras e à capacidade de interligar factos soltos que possam interagir na situação criada. Consegue fazer-nos pensar duas vezes nas possíveis implicações existentes entre coisas que antes pensávamos não estarem ligadas de forma nenhuma.
Há que reconhecer porém, que apesar de os livros se centrarem num romance leve e simples, com personagens simpáticas, frescas e agradáveis, há uma falha recorrente. Trata-se da cadência com que as informações são debitadas. A forma dos diálogos é, geralmente, tão filosófica que chega a ser difícil de acompanhar.
É, no entanto, um facto aceitável pois tratam-se de matérias muito avançadas e de tal maneira teóricas que se torna difícil explicar de uma forma a que toda a gente compreenda, sem perder o teor do conteúdo (é preciso recordar que nem todos estudam, por exemplo, a física quântica).
Um outro pormenor é apercebido por aqueles que começam a acompanhar com maior regularidade as suas obras. Em grande parte dos seus romances históricos e científicos, a personagem principal é sempre a mesma. Porém, é difícil fazer uma ligação cronológica entre as histórias, sendo que, apesar de manter sempre o carácter mulherengo (o que confere leveza e graça ao romance), não é clara a sua árvore genealógica e de relações amorosas. Por outro lado, a escolha desta personagem leva a situações muito semelhantes entre livros e a desfechos muito equivalentes. Embora esta condição possa parecer uma falta de originalidade, na verdade, a meu ver, deve ser encarado como sendo um grande cuidado em manter as características de personalidade de uma personagem chave em livros distintos, o que é de enaltecer.
Restringindo-me a um único título, foco o “O Codex 632”. É um romance que se pode considerar ter duas histórias distintas dentro do mesmo livro. Enquanto relata a aventura de um historiador na senda de conhecer a verdadeira história de Cristovão Colombo, aborda também os seus problemas conjugais e familiares durante o desenrolar da investigação, relatando as dificuldades matrimoniais quando se tem um filho com uma deficiência de nascença.
O meu realce, porém, centra-se no tema da investigação. Ao investigar os mistérios que envolvem a identidade do descobridor da América, toca na História de Portugal, agrupando e interligando com inteligência factos, mitos, questões e incongruências dos relatos da época, culminando numa interessante descoberta muito ao estilo da “Teoria da Conspiração” acerca da sua nacionalidade e possíveis razões para a grande falta de documentação sobre a sua identidade.
Resumindo, é um livro que recomendo a todos os que adoram História e mistérios envolvendo factos verídicos. Bem como o autor!